Rio. As cenas se repetem: a TV mostra dezenas de passageiros acessando a estação do BRT por um vão lateral para não pagar a passagem. Outro dia, o helicóptero da Globo flagrou uma quadrilha seccionando uma imensa caixa d’água, usando maçaricos e dois enormes guindastes. Eles estavam roubando a caixa d’água de um condomínio! Cargas sendo saqueadas são cenas corriqueiras no Estado que tem 2 ex-governadores na cadeia e outros dois que entram e saem dela à custa das várias chicanas permitidas pela nossa legislação.
A relação entre os dois fatos – os roubos e a quantidade de governadores presos e/ou incriminados é direta: parte considerável da população não acredita mais nas instituições. O papel garantidor que elas exercem entre o Estado e o cidadão está totalmente esgarçado no Rio de Janeiro em particular e no Brasil em geral.
O moralista francês François de La Rochefoucauld, definiu valor como aquilo que eu faço quando não tem ninguém olhando. Portanto, esses crimes e delitos que os cidadãos cometem à luz do dia, na frente de câmeras e testemunhas, indicam que não há mais freio moral na determinação do seu comportamento, resta apenas a polícia para garantir a ordem e a segurança. Mas, a qual polícia recorrer? No Rio, parte considerável da população já não acredita mais nela. Entre a polícia (o Estado) e os traficantes, optaram por colocar-se sob a proteção das milícias.
Em todo o Brasil, os políticos que estão presos – e os outros que ainda não o foram – são responsáveis por roubos incalculáveis. Mas, o maior crime que cometeram foi destruir a confiança que os cidadãos tinham nas instituições. Isso não tem preço. Levaremos décadas para reconstruir o tecido social e fazer com que as pessoas passem a acreditar novamente nas nossas instituições.
Como seus crimes tiveram a contraparte empresarial, os executivos das empresas condenadas nas diversas operações também quebraram a confiança dos seus funcionários, fornecedores e clientes. Igualmente, o custo é incalculável.
Na definição das penas os juízes deveriam considerar a quebra da confiança como um sério e pesado agravante, porque os valores roubados podem em alguns casos ser recuperados, mas como calcular o custo e indenizar os pacientes que agonizaram nos corredores dos hospitais públicos dilapidados pelos administradores corruptos?
Punidos os culpados o próximo desafio é cerzir o tecido esgarçado. O que precisa ser feito e quem poderá fazê-lo? Da forma mais sintética, dado o espaço: congruência entre os discursos – promessas, declarações, etc. – e a prática. De quem? De toda a liderança, em todos os níveis. Em resumo, cumprir o prometido e as obrigações do Estado com a população.
Absolutamente sensacional ! Direto ao ponto ! Cristalino ! Parabéns pela lucidez , meu amigo !
Infelizmente é isso Sr Odilo ! Estamos sendo saqueados a todo tempo! E aquém pedir socorro