E se não houver amanhã? – Marcondes Consultoria

E se não houver amanhã?

Estava num delicioso café com amigas e um dos temas da conversa foi procrastinação. Logo pensei na sincronicidade da vida: eu prestes a escrever um texto sobre o assunto e ele vem à tona nesse papo.

Mas o que é procrastinação? É a síndrome do faço depois, faço amanhã. Como se fosse possível ter absoluta certeza de que existe um amanhã. Doce ilusão, não é mesmo? O fato é que esse tema tem aparecido bastante em nosso trabalho diário. Então, vamos olhá-lo com carinho.

A palavra em si vem do latim “procrastinatus”: “pro” (à frente) e “crastinus” (de amanhã). É empurrar a vida para amanhã. Isso vai desde adiar pequenas ações até não cumprir com responsabilidades importantes e compromissos nos prazos estabelecidos.

Que atire a primeira pedra quem nunca jurou que começaria a dieta na próxima segunda-feira, faria a planilha do orçamento no dia seguinte, estruturaria aquela apresentação para o board logo depois do almoço ou teria aquela conversa importante assim que chegasse em casa.

Uma coisa é se isso é pontual ou com questões mais secundárias e, embora com um ou outro atraso, as promessas acabam sendo cumpridas. Outra coisa é quando o comportamento é recorrente e vira hábito, gerando frustração, sensação de culpa, vergonha, perda de produtividade e de oportunidades de desenvolvimento, podendo até chegar a uma demissão. Ou ao fim de vínculos significativos cujos adiamentos esvaziaram o propósito da relação e minaram a confiança.

Minha experiência me conta que procrastinar recorrentemente tem a ver com defesa e com a ilusão de que o amanhã é condição certa. Se tenho dificuldade com uma determinada tarefa, evito lidar com o sentimento de incompetência e deixo para depois. Se não sei exatamente como dizer algumas coisas e tenho medo de magoar o outro, fujo da conversa. Se acredito que pedir ajuda para aquela reunião tão importante é sinal de fraqueza, prefiro desmarcar a reunião. Se não acredito que tenho recursos emocionais para lidar com a dificuldade, permaneço na zona de conforto e não promovo ações que me levarão a outros patamares. E qual é o denominador comum disso tudo? O medo. De fracassar, de ser julgado, de não dar certo, de não ser aceito, de não ser suficiente.

Se, por um lado, o medo tem uma função positiva de nos proteger do perigo, por outro, pode nos paralisar. O medo subjacente à procrastinação é o que paralisa e, na maioria das vezes, não nos damos conta disso. Operar pelo medo é uma trava, é um grilhão que nos colocamos. Podemos desenhar um plano de ação muito bem estruturado para deixar de procrastinar, fazer uma lista de tudo que precisamos fazer para que o comportamento não se repita, definir prioridades, estabelecer prazos, identificar o que nos faz desperdiçar tempo. No entanto, se não ampliarmos nossa consciência sobre do que temos medo, engavetamos o plano e então nos dizemos aquela frase tão fácil: “ah… a rotina me engoliu.”

Quando aprendi a não deixar para depois a oportunidade de ampliar minha consciência, de mergulhar nos meus medos e compreender que deixar para depois era muito mais que uma preguicinha básica, pude fortalecer minha autoconfiança e conquistar meus sonhos. Nem sempre é fácil não adiar, mudar hábitos exige disciplina. Mas quem disse que tem que ser um drama? É uma delícia se superar e parar de adiar a vida.

Mais grave ainda é quando deixamos para o tal do amanhã aquelas coisas que nos dão prazer e nos nutrem: estar com a família, ver amigos, namorar com o companheiro de tantos anos, passear, cuidar de nossa saúde física, mental, emocional e espiritual. Ainda bem que não foi esse o caso de Ricardo Boechat. No último final de semana antes de sua morte, ele estava reunido com a família que tanto amava. A dor tão dilacerante da perda numa tragédia assim não diminui porque estavam reunidos. Mas o coração pode bater com a tranquilidade de que não adiaram o encontro que seria marcado pela despedida.

 

 

 

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Lumena Matta


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3 opiniões sobre “E se não houver amanhã?

  • Avatar
    20 de fevereiro de 2019 em 13:08
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    Excelente reflexão. Certeza que será meu tema no próximo encontro com o terapeuta 😉

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    • Avatar
      21 de fevereiro de 2019 em 21:33
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      Obrigada, Aline! Que a reflexão com o terapeuta gere insights poderosos!

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  • Avatar
    18 de junho de 2019 em 08:03
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    Assunto desconfortável esse, não é? E com certeza que permeia a vida e a realização da grande maioria. A Procrastinação está ligada à dois fatores super frequentes e difíceis de serem superados: Dificuldade em lidar com a frustração e a intenção de perfeccionismo. Junta-se os dois e pronto ….. está feito o estrago. Obrigada pela reflexão sobre o tema!

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