“Milhões de pessoas, no mundo todo, só acordaram hoje cedo simplesmente porque não morreram ontem”.

Quando ouvi essa frase pela primeira vez fiquei muito impactado. Acho que sempre idealizei a razão da existência humana. Mas, realisticamente, devo admitir que milhões de pessoas não têm nenhuma razão para estarem vivas. Viver para elas é consequência, apenas, de um processo biológico e não da existência de uma razão que transcenda o meramente físico. Elas não têm uma visão do futuro que justifique seu esforço de manterem-se vivas. Estão vivendo de forma inercial.

Curiosamente elas não são necessariamente as mais pobres e despossuídas. A esperança, o sonho, não são privilégio dos que têm recursos. Às vezes, ao contrário. Quando a revolução liderada pelo Aiatolá Khomeini derrubou o Xá Reza Pahlevi, ele e sua família ficaram vagando pelo mundo, sem destino. Algum tempo depois, sua filha suicidou-se. É de se imaginar que, longe do poder e sem ter construído qualquer projeto pessoal, a moça tenha se dado conta que não tinha uma razão para continuar viva.

O mesmo se dá com as empresas: milhões delas só abriram suas portas hoje cedo porque não faliram ontem. Elas também estão vivendo na inércia: não têm um sonho ancorado lá no futuro.

Por conta de visões míopes ou inexistentes, essas organizações já não atraem pessoas com brilho nos olhos. Só sobreviventes como elas. Apesar de muitas terem sido empresas com produtos e serviços altamente valorizados pelo mercado, a falta de uma visão inspiradora poderá transformá-las em adubo para o solo onde, no futuro, brotarão novas e modernas organizações.

Em um texto clássico – “Miopia em Marketing” – Theodore Levitt já alertava sobre o fato de que empresas bem-sucedidas tinham desaparecido por conta da miopia que as levou a definirem-se pelo ramo de negócio em que atuavam e não pelas necessidades que atendiam. As necessidades são permanentes, os negócios não. Exemplo: o transporte é uma necessidade, já os meios têm variado muito ao longo da história. Hollywood quase desapareceu porque definia seu negócio como cinema. Salvou-se da ameaça representada pela televisão quando passou a definir o seu negócio como entretenimento. Este, sim, uma necessidade permanente. Hoje os estúdios dedicam-se a muitas atividades, inclusive cinema.