O velho mito da liberdade…
A revista Veja publicou o artigo “O Mito da Liberdade”, de Yuval Harari (02.01.2019). Nele, o autor compartilha seus dilemas sobre a narrativa liberal predominante do século 20, traduzida pela famosa citação bíblica: “a verdade vos libertará”.
Será?
A equação verdade + liberdade é complexa. Depende de como definimos verdade, liberdade e o resultado que queremos obter. É comum a gente achar que a verdade é o que acreditamos, o resultado é o que queremos e a liberdade é poder fazer tudo para ter o que queremos. É claro que essa equação resulta em caos. E sempre foi assim. Esse dilema existe desde que o mundo é mundo.
A metáfora dos 3 macacos…
Para evitar causar o caos social, a tradição asiática apontava como solução adotar a postura dos 3 macacos: “não ver, não escutar e não falar”. Porém, evoluímos para um mundo em que isso é praticamente impossível. Fazemos tudo em público: falando ao celular (e escutando tudo), opinando sobre tudo (nas redes sociais, então…), trabalhando em ambientes abertos (workstations). É difícil não ser envolvido e a postura dos 3 macacos acabou sendo vista como falta de responsabilidade e engajamento social.
Dizem ainda que havia ainda um 4º macaco, que devia esconder seus genitais para disfarçar seu prazer. Mas esse assunto fica para outro artigo, né?
Concordo com Harari, precisamos reinventar o liberalismo. Não basta evitar o mal, precisamos lidar com tudo o que é humano de forma consciente e corajosa. O risco de escutar a verdade é ter que admitir que o que eu acredito talvez seja uma mentira. O risco de ver a verdade é ter que substituir ilusões por decisões conscientes e assumir as consequências. O risco de falar a verdade é despertar a reação e a raiva dos macacos preguiçosos, que não querem ver, escutar ou falar. A questão é descobrir onde está a preguiça: de pensar, de sentir, de agir, de tolerar, de amar, e por aí vai.
Somos todos macacos…
Harari questiona se os intelectuais devem se censurar em prol do equilíbrio social ou manter a livre expressão em prol da liberdade. Esse não é um problema dos intelectuais. É o problema de todos nós, que precisamos escutar com o coração, pensar antes de falar e ver com quem estamos interagindo!
Conhece-te a ti mesmo… e conhecereis a verdade!
A antiga máxima grega já indicava o autoconhecimento como o acesso mais efetivo à verdade. Nilton Bonder, em seu livro “A Alma Imoral”, traduz essa máxima com perfeição na frase “Um macaco que se sabe macaco não é um macaco. Uma cobra que se sabe cobra não é uma cobra. Um cavalo que se sabe cavalo não é um cavalo. Um ser humano que se sabe ser humano é um ser humano. Um ser humano que não se sabe ser humano é um macaco, uma cobra, um cavalo…”