A vergonha alheia – Marcondes Consultoria

A vergonha alheia

Parece que virou moda: cada vez mais tenho visto pessoas falando que sentiram “vergonha alheia” diante de comportamentos inadequados do alheio. Ora, eu não posso sentir vergonha pelos outros. A vergonha, como qualquer outro sentimento, será sempre minha. Mas, culturalmente estamos treinados para expressar sentimentos que não são nossos, tal como o polido americano que diz “sentir muito” ao saber que o pai do seu interlocutor, recém-conhecido, morreu há 5 anos. Mero protocolo.

A primeira vez que me vi frente à morte foi quando perdi minha avó paterna. Eu tinha 5 para 6 anos. Naquela época os mortos eram velados em casa, o que tornava a dor ainda maior. Me lembro muito bem de como me senti: a dor, a certeza, pela primeira vez, que nunca mais iria vê-la e nem receber o seu carinho através das guloseimas que fazia. Para me tranquilizar, os adultos diziam que minha avó agora estava no céu, portanto para as minhas crenças daquela época, em um lugar melhor.

Há alguns anos eu me lembrei dessa passagem na madrugada antes de um evento para um cliente: eu havia perdido o sono, certamente pelo desafio que tinha pela frente. A empresa havia demitido muitos funcionários e nos pediram que conduzíssemos um workshop com os remanescentes para ajuda-los a lidar “com a dor da perda dos seus colegas”. Lembrei-me então do trecho hoje famoso da “Meditação 17” do escritor e clérigo anglicano John Donne: “Nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. Comecei, então, meu trabalho pedindo que – tal como eu – se lembrassem da primeira experiência com a morte de um ente querido e os convidei a refletir sobre “por quem os sinos dobraram?”. Como eu, eles se deram conta que a dor era deles.

Da mesma forma como não sabiam do destino dos entes queridos mortos, também não sabiam do real efeito da demissão para seus ex-colegas: talvez para muitos tivesse sido melhor no médio e no longo prazos, estavam com as carreiras estagnadas, etc. Estas pessoas sofriam pelas suas próprias dores e medos: poderiam ser os próximos; teriam medo de que, caso fossem demitidos, ninguém mais se lembraria deles; ou, temiam ser percebidos como incompetentes.

Recentemente uma pessoa disse estar com vergonha alheia pelo fato do seu gestor ter encerrado abrupta e deselegantemente uma reunião. Qual seria a sua vergonha? Dentre os seus possíveis desconfortos talvez estivessem: o receio de ser percebida como uma pessoa que aceita ser maltratada; ou a vergonha de ter um chefe mal-educado.

Uma tia perdeu o seu amado filho único de forma trágica. Quando a encontrei na primeira vez após a perda tentei consolá-la: “- Sei como a senhora se sente”. “- Não, não sabe não”, ela retrucou e eu me calei. Mesmo que eu tivesse passado por experiência semelhante, a dor seria única e só minha.

A vergonha alheia
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Odino Marcondes


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