A propósito… – Marcondes Consultoria

A propósito…

A edição da revista Exame de 01 de maio de 2019 traz uma interessante matéria sobre “a força do propósito”. O texto destaca a importância de as empresas guiarem suas ações por valores morais, e não apenas por interesses utilitários. Para as pessoas, a força do propósito seria a principal razão para acordar todos os dias, e não apenas a necessidade de ganhar dinheiro e pagar contas. Portanto, trabalhar em uma empresa cujo propósito transcenda os níveis de sobrevivência, daria aos indivíduos uma boa razão para ir trabalhar.

A matéria traz depoimentos de pessoas e histórias de empresas que estão preocupadas em nortear suas decisões por propósitos. Uma delas é a decisão da Nestlé de “melhorar a qualidade de vida e contribuir para o futuro mais saudável”, frase que deve “reger o dia a dia dos funcionários”. Inspirada por esse propósito a empresa decidiu vender sua unidade de chocolates e confeitos nos Estados Unidos para a italiana Ferrero.

Quando uma empresa anuncia que tomará decisões com base em valores morais ela também estará sujeita ao escrutínio moral da sociedade. Portanto, cabe questionar se confeitos e chocolates não são produtos saudáveis, não o são para os clientes da Nestlé e, também não o são para nenhum outro fabricante de alimentos. Seria como se um cidadão, preocupado com o risco e a segurança dos seus filhos, decidisse se livrar de uma arma vendendo-a para um vizinho também pai de outras crianças.

A matéria continua afirmando que “o motor das mudanças não foi apenas filosófico, mas pragmático”.  Suponho que a decisão da Nestlé foi tomada dentro de uma vala em que numa das margens estava um critério principista, e na outra um critério consequencialista: “sim, estamos comprometidos com a saúde dos nossos consumidores, mas podemos fazer algum dinheiro com isso, não?”

Propósitos são compromissos que não podem ser regidos por interesses pragmáticos. Viktor Frankl, famoso psicanalista austríaco citado na matéria, não ficou famoso somente por ter garantido sua própria vida durante os horrores dos campos de concentração nazistas, mas por ter se comprometido a salvar a vida de todos que estavam lá com ele. Teria sido muito mais pragmático cuidar só da sua dura existência.

Propósitos não devem ser peças de marketing e campanhas publicitárias. Devem ser guias para iluminar decisões em zonas cinzentas, que não têm manuais ou regras de compliance. Devem ser inspiracionais, para alinhar os valores pessoais dos colaboradores aos da organização.

Em toda a minha experiência assessorando empresas na definição ou revisão dos propósitos o maior desafio, sempre, foi o de garantir a congruência entre o discurso e a prática. É a congruência que vai garantir que as declarações não fiquem apenas enfeitando as paredes das salas de espera das empresas. Cito dois casos em que a falta de congruência era absolutamente crítica. Uma organização declarava a confiança como um dos seus valores centrais. Todavia, fazia revistas nos seus funcionários na saída da fábrica. Outra empresa queria escolher ética como um dos seus valores principais, mas seus diretores assumiam que pagavam propinas para viabilizar seus negócios junto aos poderes públicos. Nos dois casos, qualquer declaração que fizessem seria natimorta por princípio.

Finalmente, a congruência é fundamental para evitar a escolha de slogans que não resistem à primeira tentação do caminho. E, a mais frequente tentação é a da vaidade: a maioria das empresas busca ser percebida e avaliada como “as melhores empresas do país”, ou do segmento em que atuam. Se forem efetivamente guiadas por propósitos, poderão almejar ser percebidas como “as melhores empresas para a humanidade”.

 

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Odino Marcondes


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